terça-feira, 10 de setembro de 2013

Influências #1

 Guardado por um sol cujo calor e luz transcendem uma moleza que carinhosamente se apodera do meu estado de espírito, o abanar das folhas que me servem como um guarda sol verdejante acaricia-me o rosto com uma brisa tímida mas fresca o suficiente para me trazer lucidez à beira de uma piscina cuja transparência e brilho me trazem questões sobre a lucidez desta tarde de verão algarvia.
 As horas deixam de ter significado no horário de quem se deixa perder por entre o verde torrado e o azul tranquilizante que levemente me acompanham a cada suspiro propositadamente prolongado.

domingo, 4 de agosto de 2013

Tempo Mal Amado

A ansiedade
oh... ansiedade como és tudo..!
tudo o que se desloca
e me faz deslocar
oh como te anseio experimentar...!

E desespero
oh se desespero...!
a minha alma desolada espuma de raiva
A ânsia afinca os dentes no desespero
e é pura piromania...

E é fogo nos olhos de quem anseia!
e a chama queima desesperada
o bicho que arde no seio
do desalento e da loucura...!

E tu, tu que és corpo desconhecido!
semeias o ideal rico e próspero de se amar
o que não se conhece,
mas que se aceita
com os olhos fechados,
e com uma mente acolhedora.

Agora anseia mas não desesperes
Chama viver a isto que te contei!
Imploro-te!
Será pois tudo o que terás nas mãos depois do tempo morrer
e tu entregue serás ao vácuo deixado por toda a sua importância e significado.

Saudade #1

  Não me consigo ver mais velho. Sei que a saudade tem o seu papel nisso, mas julguei que as fotos ajudassem. A saudade não me deixa ver isso. Nem precisa de ter cara essa saudade, basta saber que ela existe para que o meu dia-a-dia fique ligeira e subtilmente mais turvo. 
Dá-me prazer voltar a escrever, sabendo que daqui a merda não sai, um desabafo talvez sirva para me desentupir o estado de espírito.
  Anseio o verão com saudade do que este antecedeu. Mas não suspiro. É uma saudade seca, que é saudade por ser saudade e nada mais. Não sinto em mim pitada de um desejo mórbido de voltar a viver na melancolia a rastejar-me pela mente. Foi o que foi, sou um monstro mais gordo por ter engolido aquelas pequenas e gordas pitadas e fiquemos por aí. Não é por medo de me aperceber que me estou a tentar cegar, apenas quero que o sentimento de saudade me esfregue na cara a eminência de um presente que nunca devolverá a alma a um corpo morto nas dunas de um passado bem vivido e entranhado.
  Um desabafo bem merecido, creio eu, já flutua para além do alcance dos meus sonhos um tempo de necessidade de paz de alma; seja lá o que isso for; agora vou tentar enterrar o que não consegui dizer por não achar digno debaixo da almofada, deixo de pensar no tecto como uma tela em branco que irei manchar com o sonho mais ensopado que encontrar e deixo que a saudade me tape os olhos pela noite dentro.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

(-)


Com uma lua teimosa
e com um sol que tarda em se mostrar,
reina nesta madrugada
uma luz terna e gentil
com o horizonte a alargar-se
a uma dimensão em que se cansa de existir.

Estou sozinho com o mundo
e reclamo esta madrugada
como parte dos meus pecados quotidianos

chamo-lhe paz,
pois ela é minha
e eu nela incutido estou,
à medida que o dia acorda
e a minha alma desperta

somos paz, nada mais.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Praga


Morreu
sem saber bem como, morreu.
Pelo menos diz acreditar que morreu.

Morto
talvez não.

Talvez traído por uma nostalgia macabra
que seduziu a pobre criatura
a aceitar boleia desta emoção
em tão sujas horas da madrugada

Talvez somente
suicida.

Suicida ao embarcar numa viagem
sem garantia ou promessa vã
da sua carne regressar fresca e imaculada
e pelo tempo, intocada.

Suicida por em plena consciência
aceitar boleia de uma emoção criminosa
e visitar tempos friamente deixados como
presa fácil ao esquecimento.

Nem morto nem suicida.
A nostalgia escorrega da mente para o coração com o dilatar das horas.

Meio morto meio vivo.
Hipnose contínua que não conforta.

Praga imortal do sofredor.

terça-feira, 19 de março de 2013

Para Ninguém.


Palavras que chegam timidamente à margem do rio,
Sentimentos que escorrem por um corpo oco,
Sorrisos escondidos por detrás do teu cabelo
fazem um louco gritar como só um louco sabe.

Decisões perdidas num tempo sujo e gasto,
Promessas rotas feitas por corpo fraco,
Mentiras que beijam este amor predilecto
deixam um louco perdido à beira de mergulhar no esplendor da noite.

Derrotas de uma criança entrelaçadas em neblinas e nevoeiros,
Viagens com destino fixado na tua companhia,
Tons tresloucados e arrepios apanhados pela tua voz
sugam a vida a um louco fanático pelas tuas tímidas manias.

Esses teus toques delicados
revelam muito mais que um coração em sofrimento
contam histórias pouco relatadas
sobre um louco à deriva numa ironia patética.

Ideias numa noite pouco sortuda
acompanhavam olhares cheios de vagar,
Um ritmo avassalador deixava o céu correr,
E o louco de bolsos rotos levava na mão um desejo que gemia por vingança.

Contavam-se pelos dedos os loucos,
loucos como aquele, que com ela por ai andou,
Risos que compunham um céu jamais tão platónico
Fizeram dele um miúdo com uma banal paixão nunca tão ordinária.

Rebentavam pelas ruas lembranças de dias mais corajosos,
Brisas audazes levaram-lhe tudo nesse momento,
E só o louco ficou, de desejo suado e derrotado na mão.

domingo, 17 de março de 2013

A fraqueza


Desistir deixa sempre inevitavelmente imprimida aquela sensação de fraqueza que nos faz duvidar da simplicidade do nosso reflexo ou da confiança que depositamos no espelho que nos jura verdade. Apesar disso, faço questão de me deitar numa cama limpa, sabendo que não é nesse mundo que amanha vou acordar. Mundo esse que não é fatalmente banhado a tons de preto e branco, e que o cinzento não cai em esquecimento.
 Rotula-se de fraqueza o monstro que se entrega ao escuro, quando a sua última gota de suor beija o chão enquanto restam desejos por queimar agarrados às paredes do coração.
 Fraqueza que se apodera da fé que nos guia na neblina  desfaz-se nas mãos frias de um bicho tão sozinho quanto a sua vontade de saber amar. Quero satisfazer o apetite desse ser mesquinho, quebrar fraquezas que lhe distorcem a visão do que é continuar, encontrar luz num dia em que ninguém a queira dar a quem a procura.
 Animal moribundo, de alma comprimida pela indecisão que lhe preenche de dentro para fora todos momentos que lhe fogem para outros dias, dias que teimam em não existir, que se refugiam no aleatório do que virá a ser.
 Desistir soa a ingratidão, a mim sabe-me a vitória sobre o universo, e ele concorda. Mas quem sabe, talvez esteja errado, talvez isto não passe de uma mentira que tento injectar no meu subconsciente, talvez tenha de mudar de espelho.